No interior, ainda segundo o sindicato, mais cinco estabelecimentos foram atacados este mês. As lojas de Ilhéus, Vitória da Conquista, Lauro de Freitas, Paripiranga e Bonito tiveram suas dependências saqueadas. De acordo com o presidente da Ebal, Reub Celestino, o prejuízo causado em setembro por esses crimes já chega a R$ 30 mil.
Se não bastassem os arrombamentos, a Cesta do Povo da Avenida Barros Reis foi assaltada por quatro homens na terça. Além de roubar funcionários, o bando agrediu um cliente no rosto. No mesmo dia, a loja de Sussuarana foi invadida durante a madrugada. Os criminosos tentaram abrir o cofre, mas levaram somente R$ 60 do caixa.
Além da Barros Reis e Sussuarana, na lista do sindicato, as lojas atacadas este mês estão nos seguintes bairros: Valéria, Periperi, Plataforma, São Tomé de Paripe, São Joaquim, Mussurunga, Jardim Nova Esperança, Canabrava e Estrada das Barreiras. Nesta última, há 15 dias, um bandido entrou no estabelecimento durante a madrugada e furtou R$ 3 mil do cofre e R$ 60 em vale-gás.
Em Periperi, o portão de ferro foi destruído pelos bandidos, que deixaram uma picareta no local. De acordo com a polícia, foram roubados cinco computadores, seis monitores, três balanças e uma TV de 42 polegadas, além de mercadorias diversas.
Em agosto, segundo o diretor sindical Cláudio Freitas, as lojas da Ribeira, Cidade Baixa, e Alagados foram arrombadas duas vezes cada. As de Plataforma e a da Boca do Rio também foram alvejadas. Na Sussuarana, os ladrões levaram R$ 130 assim que a loja foi aberta.
Assalto
Na Barros Reis, funcionários relataram a ação dos bandidos na terça-feira. “Tava botando leite na prateleira e um deles disse: ‘passa o celular’. Entreguei e corri. Aproveitei que ele foi pra cima do cliente e me piquei”, lembrou uma funcionária, pedindo para não ser identificada.
Ela contou que ainda tentou acalmar o bandido. “Pedi pra ele ficar em paz. Ele respondeu: em paz, o quê? Passe pra eu não te matar”, contou.
Segundo uma operadora de caixa, o bando formado por quatro homens estava “bem arrumado”. “Eles usavam bermuda, calça, boné, tênis… Todos arrumadinhos”.
A funcionária disse que três dos assaltantes passaram pela loja dias antes. “Se passaram por clientes. Como tinha gente no caixa, disseram um pro outro que não ia dar. Mas, dessa vez, além de roubarem R$ 400, levaram desodorantes e me fizeram botar tudo na sacola”, detalhou.
Aliás, a seção de perfumaria, segundo Cláudio Freitas e funcionários das lojas, é o principal alvo dos bandidos. Na sacola, o quarteto que agiu na Barros Reis levou 12 desodorantes.
“Quando arrombam, levam desodorantes, bom-ar, sabonetes, xampu e uma infinidade de produtos de higiene”, lista Freitas. Além disso, chama a atenção que os ladrões gostam muito de sandálias. “Devem ser produtos mais fáceis de trocar. Dificilmente levam alimentos”, ressaltou o diretor sindical.
Queixas
Na Estrada das Barreiras, funcionários contaram que presenciam pequenos furtos com frequência. “A gente não pode fazer nada porque sofre ameaças. Já disseram que sabem qual o ônibus que pego. É gente da própria comunidade. Mulheres que entram com as bolsas e colocam a mercadoria dentro”, afirmou um repositor.
Diariamente, dois policiais militares fazem a segurança da loja por turno. Ontem, havia um carro da PM na frente da unidade. “Os ladrões aproveitam o intervalo da polícia, na hora do almoço. Até criança leva biscoito daqui. Se deixar, levam tudo”, lamentou o repositor.
Em Sussuarana, o ladrão invadiu a Cesta do Povo pelo telhado, durante a madrugada. “Ele subiu pela caixa de telefonia e chegou na loja. Instalaram um alarme aqui, mas nunca funcionou perfeitamente”, informou um funcionário da loja.
A falta de segurança pessoal e de equipamentos de fiscalização está entre as reclamações dos trabalhadores. “Nessa loja (Sussuarana), a gente ainda tem um segurança por dia, mas ele não anda armado e não pode fazer muita coisa quando vê gente furtando”, completou o funcionário.
Ebal prepara licitação para contratar segurança
Diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Supermercados, Cláudio Freitas afirma que já solicitou à Ebal diversas vezes que a empresa garanta a segurança das lojas e de funcionários da Cesta do Povo. “Antes havia policiais em todas as lojas. Hoje, não temos nem câmeras de segurança. Queremos saber se vão esperar morrer alguém pra tomar uma providência”, brada Freitas.
Segundo o presidente da Ebal, Reub Celestino, já está sendo elaborada uma licitação para que seja contratada uma empresa de segurança. “Como não temos expertise em segurança, por determinação do conselho da Ebal, estamos providenciando a segurança patrimonial da empresa através de licitação”, garantiu Reub Celestino.
Sobre a retirada da Polícia Militar das lojas da Cesta do Povo, ele foi enfático: “Ocorreu (o afastamento) por uma função de Estado. Cabe à Polícia Militar defender o coletivo e não a Ebal”. De acordo com o capitão Marcelo Pita, do Departamento de Comunicação da PM, algumas unidades da Cesta ainda contam com policiamento fixo.
“Atuamos nessa configuração com postos efetivos e rondas a pé, não só na Cesta do Povo como em outros estabelecimentos ligados ao governo”, explica Pita, afirmando que não se pode garantir a volta dos PMs para todas as lojas. “Nós agimos sob demanda. Monitoramos esses crimes e, se for verificado que é uma questão sensível, podemos avaliar ter um posto fixo”.
Após saque, loja da Liberdade mudará de localização
Nem a fachada restou. E, assim, a Cesta do Povo do Largo do Japão, na Liberdade, não será reaberta, de acordo com o presidente da Empresa Baiana de Alimentos (Ebal), Reub Celestino. O estabelecimento foi atacado e destruído no dia 3 de fevereiro, durante a greve da Polícia Militar.
“Estou procurando outro local na Liberdade para reabrir a loja. Foi uma movimentação de bandidos em cima da cidade, que ficou sem segurança. Por conta disso, não reabrimos”, destacou Celestino. Mesmo antes do saque, a loja já havia sido fechada, segundo o diretor sindical Cláudio Freitas.
“Por causa do excesso de assaltos e arrombamentos, pedimos que o estabelecimento fosse fechado. A Ebal parou de mandar mercadoria, mas depois reabriu. Com essa depredação durante a greve dos policiais, fechou de vez”. Ontem, o CORREIO retornou ao local e conversou com moradores da área.
“A Cesta do Povo faz muita falta. Os preços eram mais em conta e todo mundo comprava lá. Depois que fechou, ninguém se mobilizou para que fosse reaberta”, lamentou o serralheiro Ricardo Bonfim, 28 anos. “Saía daqui para comprar lá. Economizava bastante. Quebraram tudo. É uma pena”, disse o comerciante Luiz Alberto, 52. Em todo o estado, são 306 lojas, sendo 54 na capital e Região Metropolitana.