Democracia e racismo

Por Josélia Ferreira*

Esse 20 de Novembro de 2022, Dia da Consciência Negra, é significativo para nós. Celebramos o Novembro Negro, um mês inteiro de celebrações e reflexões, após o segundo turno das eleições presidenciais no Brasil, em que derrotamos um candidato com traços nazifascistas: Jair Bolsonaro. Ele vai sair, mas ficará o bolsonarismo a ser enfrentado e combatido no País.

Com a vitória da democracia brasileira, que elegeu Lula para reconstrução de uma agenda das pautas urgentes da classe trabalhadora e dos grupos sociais dos setores mais pobres. Eles foram retirados do orçamento do atual governo, e decidiram por um novo rumo para suas vidas.

É nesse cenário que vamos discutir um novo pacto entre democracia e racismo. No Brasil, precisamos falar de mortes de negros e negras todos os dias. E que essas mortes não têm parado o país inteiro para debater e resolver essa problemática relação.

É fundamental que essa tomada de consciência negra provoque mudanças profundas nas relações institucionais. Apenas leis, não resolvem. É preciso que o tema de combate ao ódio de raça esteja dentro das escolas e no conjunto da sociedade para que se pense como combater a selvageria contra vidas negras.

Se a sociedade é racista, ela não é democrática. E essa cultura ameaça toda vida social de um povo. Desde a questão salarial, na representação política, papéis determinados e marginalização. Se a democracia pressupõe igualdade para todos, quem está no poder deve governar para todos. No entanto, a realidade do negro no Brasil diz muito sobre como a democracia é estabelecida.

O que existe é uma democracia que convive pacificamente com o racismo. No Judiciário, por exemplo, lamentavelmente todos os crimes de racismo julgados cai no bojo da injúria racial. É tratado com pena mais branda quando os casos chegam aos tribunais, levando a quem pratica o crime a quase impunidade em nosso país.

A nossa luta é que os modos de organização social contemplem a todos os seus humanos. Por isso, é fundamental radicalizar a ideia de democracia para que ela se alargue, de modo que não aceite exclusividade de um grupo social em detrimento de outros. Ao contrário: que inclua o povo negro no orçamento nacional, no mundo do trabalho formal, na ciência, na medicina, no parlamento e nas decisões de poder.

Esse recado é o mesmo que demos nas eleições, em especial a região Nordeste. É que não aceitamos um projeto de poder no governo tipo o de Bolsonaro, que desmonte os direitos trabalhistas, os direitos civis, os direitos humanos, desrespeita os povos indígenas e quilombolas, a Amazônia e o meio ambiente. Que pratica o ódio contra os mais pobres. Que exerce violências contra as mulheres, pessoas LGBTQIA+. Que desrespeita às religiões de matriz africana e a ciência. Que fortalece o obscurantismo e a ignorância com a falta de investimentos na educação pública e na saúde (além do descaso às vidas do povo brasileiro na pandemia).

Queremos o fim da meritocracia falaciosa, que nos coloca em dimensões desiguais. Ao invés de armas, precisamos de livros e valorização salarial. Essas pautas produziram a derrota do governo Bolsonaro no segundo turno.

É nesse caminho que buscamos uma nova consciência entre a democracia brasileira e o racismo estrutural e estruturante. Queremos uma verdadeira abolição social, econômica e pacífica no conjunto da sociedade.

A reconstrução do Brasil passa pelo restabelecimento de um bem-estar coletivo e pela reparação histórica negada e silenciada de um país credor de direitos ao povo afro-brasileiro através de políticas públicas. Agora é nos unirmos para resgatar direitos perdidos e avançar por uma democracia livre do racismo na nação brasileira.

* Estudante de Direito e secretária de Gênero, Geração, Raça e Etnia do SintraSuper

Post Anterior

Valorização do trabalhador retorna com Lula, diz Adilson Araújo

Próximo Post

Pelourinho recebe primeira edição da Expo Mulher